Feita de Apocalipse
- Lua Malakian
- 1 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Abraçando o mundo com toda minha força e mantendo o sorriso no lugar sob máscaras variadas alternando em cores. Lampejos de verdade perpassam o rosto enquanto tensiono mais uma vez a mandíbula e sustento a expressão mais neutra que dou conta - hoje.
É sempre sobre o hoje.
Furacões seguidos de tsunamis, vulcões acompanhados de terremotos, sou destrutiva e construtiva, porém não vou te deixar ver meus destroços; não vou te convidar para a sala de espera enquanto grito com os espelhos, engano bem, sem olhar a quem, entrego falas que convencem porque sou treinada para isso durante todo o tempo, a melhor forma de fazer com que não prestem tanta atenção em você é, provavelmente, esperar que ninguém te note. Ninguém nunca notou meu desastre, ninguém nunca viu que sou um apocalipse emocional ambulante, esbarrando em quinas e mundos sem discriminar; só não se engane pensando que lê um pedido de socorro, pois isso está muito longe de sê-lo; não se engane pensando que está lendo um pedido de ajuda desesperado, pois não te peço nada aqui, eu só te digo uma fração dos pensamentos que correm em minhas veias quando estou sozinha. Tento dia após dia equilibrar a balança entre a eu que atua e a eu que vive, a que se faz de inteira e a que aceita o vazio inevitável de existir; esbarro, sim, em mil perguntas e respostas, coisas não ditas e não feitas, em pura expansão de caos. Me perco nos caminhos e me encontro com a mesma confusão, tudo isso porque estou tentando me tornar outra coisa antes que perca a habilidade de ser mais que já fui. Há um novo apocalipse para surgir amanhã, tão destrutivo quanto o de hoje, porém ainda mais belo.
No fim do dia, a conclusão é ambígua e desajeitada: o fim do mundo é avassalador, mas também enche os olhos com suas cores em colisão. Sou feita de apocalipses que se transmutaram em novos universos, feita do caos que dá corpo aos meus medos e voz às minhas coragens.
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